Existe uma realidade brutal sobre o Exame da OAB que poucos falam abertamente: mais de 80% dos candidatos são reprovados a cada edição. Isso significa que em uma sala com 100 bacharéis em Direito, apenas 20 conseguem a aprovação necessária para exercer a advocacia. A pergunta é: o que esses 20% fazem de diferente?
A resposta não está na inteligência, no tempo de estudo ou no dinheiro investido em cursos caros. Está no método. Enquanto a maioria dos candidatos estuda como se fosse uma prova de faculdade, os aprovados conhecem as particularidades específicas do Exame da OAB e ajustam sua preparação para esse formato único de avaliação.
O Exame da OAB não testa se você é um bom jurista teórico – testa se você consegue resolver problemas práticos da advocacia de forma rápida e precisa. É uma diferença fundamental que muda completamente a forma como você deve se preparar.
Por Que Tantos Candidatos Fracassam na OAB
O primeiro erro fatal é estudar para a OAB como se fosse um concurso público. Concursos valorizam conhecimento enciclopédico e detalhes obscuros da legislação. A OAB valoriza aplicação prática e conhecimento operacional. Você precisa saber como fazer, não apenas o que diz a lei.
Candidatos reprovados geralmente dominam teoria mas não conseguem aplicá-la. Sabem citar artigos de cor, mas não sabem calcular um prazo processual ou identificar qual peça usar em determinada situação. É como conhecer perfeitamente as regras do futebol mas nunca ter chutado uma bola.
O segundo erro é subestimar a primeira fase. Muitos candidatos focam obsessivamente na segunda fase porque acham mais “nobre” ou “jurídica”. Resultado: passam meses estudando como fazer petições elaboradas mas não conseguem nem chegar à segunda fase porque não dominaram questões objetivas básicas.
O terceiro erro é não entender o perfil da banca examinadora. Cada banca tem características específicas, assuntos preferidos, e estilos de cobrança. Estudar genericamente para “OAB” é como treinar genericamente para “esporte” – você precisa conhecer as regras específicas do jogo que está jogando.
Anatomia da Primeira Fase: Como Funciona a Mente da Banca
A primeira fase da OAB tem 80 questões objetivas que devem ser resolvidas em 5 horas. Isso significa aproximadamente 3 minutos e 45 segundos por questão. Parece muito tempo, mas quando você considera que precisa ler o enunciado, analisar as alternativas, lembrar da legislação aplicável e marcar a resposta, a pressão temporal é real.
As questões não são aleatórias. Seguem padrões específicos que se repetem edição após edição. Aproximadamente 60% das questões cobrem situações práticas rotineiras da advocacia: prazos processuais, competência, recursos, contratos básicos, e direitos do trabalhador. Os outros 40% incluem novidades legislativas, jurisprudência recente, e detalhes específicos de cada área.
A banca adora pegadinhas, mas são pegadinhas previsíveis. Questões que confundem prazos em dias úteis com dias corridos, que misturam procedimentos de diferentes tipos de processo, ou que apresentam situações similares mas com consequências jurídicas distintas. Conhecer essas armadilhas é fundamental para não cair nelas.
Distribuição Por Área de Conhecimento
Direito Constitucional e Direitos Humanos geralmente representam 6-8 questões. O foco está em direitos fundamentais, organização do Estado, e controle de constitucionalidade. Teorias complexas como poder constituinte derivado raramente aparecem.
Direito Administrativo tem 4-6 questões focadas em atos administrativos, licitações, e servidores públicos. A banca prefere situações práticas: quando um ato pode ser anulado, quais modalidades de licitação usar, direitos e deveres do servidor.
Direito Tributário costuma ter 4-5 questões sobre impostos principais (IRPF, ICMS, ISS), princípios tributários, e execução fiscal. Cálculos complexos são raros – o foco está em aplicação correta da legislação tributária.
Direito Penal representa 6-8 questões divididas entre parte geral (tipicidade, culpabilidade, causas de exclusão) e crimes específicos. A banca prefere crimes contra pessoa e patrimônio, raramente cobrando crimes especiais ou obscuros.
Direito Civil é a área com maior peso: 12-15 questões cobrindo obrigações, contratos, responsabilidade civil, família e sucessões. É onde você não pode ter lacunas – cada subtema pode aparecer na prova.
Direito Empresarial tem 4-6 questões sobre sociedades, falência e recuperação judicial, títulos de crédito, e direito do consumidor. O foco é operacional: como constituir uma sociedade, quando cabe recuperação judicial, direitos básicos do consumidor.
Direito do Trabalho representa 8-10 questões sobre direitos do trabalhador, rescisão contratual, e processo trabalhista. A banca adora questões sobre cálculos rescisórios, férias, e FGTS.
Estratégia de Estudo Para Primeira Fase
O Método 70-20-10
Dedique 70% do seu tempo aos assuntos que mais caem (Civil, Trabalho, Penal), 20% aos assuntos intermediários (Constitucional, Administrativo, Processual), e 10% aos assuntos menores (Tributário, Empresarial). Essa distribuição maximiza seu retorno sobre investimento de tempo.
Dentro dos 70%, priorize temas que aparecem em múltiplas questões por prova: contratos em Civil, rescisão em Trabalhista, crimes contra pessoa em Penal. Dominar esses temas core garante uma base sólida de pontuação.
Estudo Por Questões, Não Por Livros
A forma mais eficiente de estudar para primeira fase é resolver questões e estudar a partir dos erros. Comece resolvendo 20 questões por dia de provas anteriores, analise cada erro detalhadamente, e estude apenas os pontos que precisa para acertar aquela questão específica.
Esse método tem três vantagens: você aprende exatamente o que a banca cobra, desenvolve velocidade de resolução, e identifica suas lacunas reais de conhecimento. Estudar livros inteiros na esperança de que “algo vai cair” é ineficiente comparado a estudar exatamente o que já caiu.
Simulados Cronometrados
Faça pelo menos um simulado completo por semana nas últimas 8 semanas antes da prova. Use exatamente 5 horas, sem pausas, marcando respostas no cartão oficial. Isso treina sua resistência mental e capacidade de manter foco por período prolongado.
Analise não apenas quais questões errou, mas quanto tempo gastou em cada uma. Se você está demorando mais de 5 minutos em questões de Constitucional, precisa revisar esses conceitos até que se tornem automáticos. O dia da prova não é momento para raciocinar – é momento para aplicar conhecimento já consolidado.
Dominando a Segunda Fase
A segunda fase é onde a maioria dos candidatos que passaram na primeira fase são eliminados. Não por falta de conhecimento jurídico, mas por não saberem organizar esse conhecimento em uma peça processual clara, objetiva e tecnicamente correta.
Estrutura Padrão Das Peças
Toda peça processual segue uma estrutura lógica que você deve dominar: qualificação das partes, fundamentos de fato, fundamentos de direito, pedidos, e encerramento. Cada seção tem funções específicas e deve conter elementos obrigatórios.
A qualificação das partes não é apenas copiar dados do enunciado. Você precisa identificar corretamente a legitimidade ativa e passiva, demonstrando que entende quem pode pedir o quê contra quem. Erros básicos de legitimidade podem invalidar toda a peça.
Os fundamentos de fato devem narrar apenas o essencial para fundamentar seu pedido. Candidatos reprovados frequentemente incluem detalhes irrelevantes ou omitem informações cruciais. A regra é: se um fato não influencia o resultado jurídico que você busca, não deve estar na peça.
Os fundamentos de direito devem citar legislação específica aplicável ao caso, não teorias gerais. Em vez de falar genericamente sobre “princípios contratuais”, cite exatamente qual artigo do Código Civil autoriza seu pedido e por quê.
Técnicas de Redação Jurídica
Clareza é mais importante que erudição. Juízes preferem peças diretas e objetivas a textos rebuscados e confusos. Use períodos curtos, evite jargões desnecessários, e organize ideias em sequência lógica.
Cada parágrafo deve desenvolver uma ideia completa. Não misture argumentos diferentes no mesmo parágrafo nem fragmente uma linha de raciocínio em vários parágrafos. O leitor deve conseguir acompanhar seu raciocínio sem esforço.
Use conectivos para mostrar a relação entre ideias. “Portanto”, “consequentemente”, “além disso” ajudam o leitor a entender como seus argumentos se conectam e fortalecem sua tese principal.
Gestão do Tempo na Segunda Fase
Você tem 5 horas para elaborar uma peça que normalmente levaria dias para ser redigida adequadamente. Isso exige estratégia específica de uso do tempo: 30 minutos para análise do caso, 60 minutos para estruturação da peça, 3 horas para redação, e 30 minutos para revisão.
Durante a análise inicial, identifique: qual tipo de peça deve elaborar, quais são os pedidos possíveis, qual legislação aplicável, e quais argumentos mais fortes. Essa meia hora de planejamento evita que você perca tempo durante a redação pensando no que escrever.
A revisão final é crucial mas frequentemente negligenciada. Reserve 30 minutos para verificar se todos os pedidos foram fundamentados, se não há contradições internas, e se a peça está tecnicamente correta. Pequenos ajustes na revisão podem fazer diferença entre aprovação e reprovação.
Áreas Que Mais Caem na Segunda Fase
Direito Civil
Responsabilidade civil é disparadamente o tema mais cobrado. Você deve dominar elementos da responsabilidade (dano, nexo causal, culpa), excludentes, e tipos de indenização. A banca adora casos de acidente de trânsito, erro médico, e defeito do produto.
Contratos aparecem frequentemente, especialmente descumprimento contratual e vícios. Saiba diferenciar vícios redibitórios de vícios de qualidade, calcular perdas e danos, e aplicar teorias como lesão e estado de perigo.
Direito de família foca em divórcio, união estável, e alimentos. A banca prefere casos práticos: como pedir alimentos, quando cabe divórcio litigioso, partilha de bens. Questões complexas de direito sucessório raramente aparecem.
Direito do Trabalho
Rescisão indireta é tema frequente. Você deve saber quando o empregado pode considerar o contrato rescindido por culpa do empregador e quais verbas tem direito. Decore as hipóteses do artigo 483 da CLT.
Horas extras e adicional noturno geram cálculos que muitos candidatos erram por não saberem as fórmulas básicas. Pratique cálculos até que se tornem automáticos – a segunda fase não é momento para descobrir como calcular.
Acidente de trabalho e doença ocupacional envolvem responsabilidade civil do empregador, estabilidade do empregado, e benefícios previdenciários. Saiba diferenciar auxílio-doença comum de auxílio-doença acidentário.
Direito Penal
Crimes contra pessoa dominam as questões de segunda fase, especialmente lesão corporal, homicídio, e crimes contra dignidade sexual. Saiba aplicar qualificadoras, causas de aumento, e atenuantes.
Legítima defesa e estado de necessidade aparecem como excludentes de ilicitude. A banca testa se você sabe aplicar os requisitos específicos de cada excludente a casos concretos.
Concurso de crimes e concurso de pessoas geram confusão em muitos candidatos. Pratique casos onde há múltiplos crimes ou múltiplos agentes para dominar as regras de aplicação de pena.
Preparação Psicológica e Física
Controle de Ansiedade
A ansiedade pré-prova pode anular meses de preparação técnica adequada. Desenvolva técnicas de controle respiratório, meditação, ou exercícios físicos regulares. A mente ansiosa não consegue acessar conhecimentos que estão consolidados na memória.
Simule as condições reais de prova regularmente. Estude em ambientes similares ao local da prova, use o mesmo tipo de caneta, mantenha os mesmos horários. Quanto mais familiar for o ambiente no dia da prova, menor será o impacto da ansiedade.
Preparação Física
Cinco horas sentado exige preparo físico. Pratique manter postura adequada por períodos prolongados, faça exercícios para fortalecer as costas, e desenvolva resistência para escrever por horas sem fadiga excessiva.
Cuide da alimentação nas semanas anteriores à prova. Evite experimentos alimentares na véspera ou no dia da prova – mantenha sua dieta habitual para evitar desconfortos que possam afetar seu desempenho.
Estratégias Para Diferentes Perfis de Candidato
Recém-Formados
Candidatos recém-formados geralmente têm boa base teórica mas pouca experiência prática. Foque em aplicação: resolva muitas questões práticas, estude modelos de peças processuais, e busque estágios ou trabalhos que exponham você à rotina advocatícia real.
Sua vantagem é ter estudado recentemente – aproveite isso focando em áreas onde a legislação mudou nos últimos anos. Sua desvantagem é falta de experiência prática – compense isso com muito treino de questões e peças.
Candidatos com Experiência Profissional
Profissionais com experiência têm vantagem na aplicação prática mas podem ter lacunas teóricas em áreas que não atuam. Faça diagnóstico honesto dos seus pontos fracos e dedique tempo desproporcional a eles.
Sua experiência prática é valiosa para segunda fase, mas não subestime a primeira fase. Questões objetivas exigem conhecimento preciso de detalhes que você pode não usar no dia a dia profissional.
Candidatos de Múltiplas Tentativas
Se você já foi reprovado anteriormente, analise friamente onde errou. Foi falta de conhecimento, nervosismo, má gestão de tempo, ou estratégia inadequada? Cada causa exige solução diferente.
Evite mudar radicalmente sua estratégia de estudo se ela estava funcionando. Frequentemente, candidatos de múltiplas tentativas sabem o conteúdo mas precisam ajustar detalhes de execução: velocidade de resolução, organização de ideias, ou controle emocional.
O Que Fazer nos Últimos 30 Dias
Revisão Estratégica
Nos últimos 30 dias, pare de estudar conteúdo novo. Foque exclusivamente em consolidar o que já estudou através de revisões, questões, e simulados. Conhecimento superficial de muitos assuntos é menos útil que conhecimento sólido dos assuntos essenciais.
Crie cronograma de revisão que passe por todos os assuntos principais pelo menos duas vezes. Use técnicas de revisão ativa: faça resumos de memória, resolva questões sem consultar material, ensine conceitos para outras pessoas.
Simulados Intensivos
Faça simulados completos pelo menos três vezes por semana. Varie as condições: diferentes locais, horários, tipos de questão. O objetivo é automatizar seu processo de resolução até que funcione mesmo sob pressão.
Analise detalhadamente cada simulado: quais tipos de erro está cometendo, quanto tempo gasta em cada área, quais assuntos precisam de reforço. Use esses dados para ajustar suas últimas semanas de preparação.
Dia da Prova: Execução Perfeita
Primeira Fase
Chegue com pelo menos 30 minutos de antecedência para se ambientar. Use os primeiros 15 minutos para folhear rapidamente toda a prova, identificando questões que sabe resolver imediatamente e aquelas que exigirão mais tempo.
Resolva primeiro as questões fáceis para garantir pontuação e ganhar confiança. Deixe questões difíceis ou demoradas para o final. Se ficar em dúvida entre duas alternativas, marque sua primeira impressão e siga adiante – você pode voltar se sobrar tempo.
Segunda Fase
Leia todo o enunciado pelo menos duas vezes antes de começar a escrever. Identifique todos os problemas jurídicos envolvidos, não apenas o mais óbvio. Frequentemente há questões secundárias que podem render pontos adicionais.
Escreva com letra legível e organize visualmente sua peça com parágrafos bem definidos. Lembrem-se que um corretor cansado avalia dezenas de peças por dia – facilite o trabalho dele apresentando texto claro e bem estruturado.
Recursos Recomendados Para Sua Preparação
Livros Estratégicos Para OAB
Embora a estratégia seja mais importante que o material, alguns livros se destacam pela abordagem prática e foco nos temas que realmente caem na OAB. Entre os mais recomendados pelos aprovados estão obras que combinam teoria objetiva com questões comentadas.
Para primeira fase, obras como “Como Passar na OAB – 1ª Fase” de Wander Garcia e “OAB Primeira Fase – 5.000 Questões Comentadas” de Eduardo Sabbag se destacam pela organização do conteúdo por frequência de cobrança. Estes livros não apenas explicam a resposta correta, mas também demonstram por que as alternativas incorretas estão erradas, desenvolvendo o raciocínio necessário para a prova.
Para segunda fase, “Manual de Prática Forense” de José Carlos Barbosa Moreira e “OAB Segunda Fase – Prática Profissional” de Marco Antonio Araujo Junior são referências pela abordagem prática. Incluem modelos de peças processuais e técnicas de redação jurídica que mostram como estruturar o raciocínio jurídico de forma clara e persuasiva.
Você pode encontrar essas obras especializadas facilmente na Amazon, onde a variedade de títulos e avaliações de outros candidatos ajudam na escolha do material mais adequado ao seu perfil de estudo.
Preparação Estruturada
Para candidatos que preferem uma abordagem mais estruturada, cursos preparatórios especializados podem acelerar significativamente o processo de aprovação. Um curso bem elaborado oferece cronograma otimizado, questões direcionadas, e acompanhamento pedagógico que muitos candidatos precisam para manter disciplina e foco.
Entre as opções disponíveis, destacamos o Curso Prático OAB, desenvolvido especificamente para candidatos que querem aprovação consistente sem perder tempo com conteúdo desnecessário. O curso combina videoaulas objetivas com material de apoio prático e sistema de questões comentadas.
O diferencial está na metodologia focada nos 20% do conteúdo que respondem por 80% das questões, exatamente como explicamos neste artigo. É a aplicação prática dos princípios que separam candidatos aprovados dos reprovados.
Sua Jornada Para a Aprovação
A aprovação na OAB é conquista que abre portas para toda carreira jurídica. Com método adequado, dedicação consistente, execução cuidadosa, e recursos de qualidade, você pode estar entre os 20% que conseguem essa conquista de primeira tentativa. O segredo não está em estudar mais, mas em estudar melhor com as ferramentas certas.
